sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Contrato Social: A saída para o servidor público de péssima qualidade

Recentemente um leitor do blog (valeu Pedro!!) recomendou a leitura de um livro sobre economia comportamental. Por confiar muito nesta pessoa que sempre traz idéias boas que incitam o pensamento produtivo, comecei a ler imediatamente e fui surpreendido por um ótimo material de leitura muito leve. 

Coincidentemente, a situação atual das greves de policiais e bombeiros em alguns estados brasileiros poderia ser muito bem explicada por um dos temas abordados no livro: a diferença entre “contrato social” e “contrato de mercado”. O tema é interessante e vale uma reflexão. 


Contrato social 



Contrato social são aqueles que fazemos ao longo da vida que não envolvem uma quantia de dinheiro. Por exemplo, quando levamos uma garota para jantar e pagamos a conta, é claro que há um interesse nesta relação. O homem paga a conta em troca de algo a mais, porém, nunca cobra este “algo a mais” proporcionalmente ao valor do dinheiro. Seria algo como dizer: “ok, eu paguei R$ x,xx em um jantar e por isso mereço um beijo...”. Pelo contrário, quanto menos você comenta sobre o valor, mais eficiente será o resultado! 


Contratos sociais não existem apenas entre pessoas. Muitas empresas buscam com seus consumidores contratos sociais. São aquelas empresas que se “vendem” como amigas do consumidor e parte integrante de suas vidas. Aquele tipo de coisa: “estamos aqui por você”, “servindo bem para servir sempre”, etc. 

Vejamos alguns exemplos: 

- Campanha de Chocolates Nestlé: “Chocolovers”. O tema aqui é que a marca está te entregando uma PAIXÃO:


- Cerveja Antarctica: típico servindo bem para servir sempre. Eles fazem o que você quer por que eles se preocupam com você.


- TAM: Essa é muito óbvia. A companhia já tem slogans como “Paixão pela Aviação” ou “Espírito de Servir” que são típicos contratos sociais. Nesta campanha abaixo, aparece um avião com a assinatura de vários funcionários e o escrito: “Quando uma pessoa assina um compromisso, você pode confiar!”. Ou seja, é uma relação pessoal - você (pessoa física) com os funcionários (pessoa física) - e não uma relação comercial! 


Muitas vezes, você tem contratos sociais com seu empregador. É aquele momento em que você trabalha com motivação independente de quanto está ganhando. Você não está preocupado se ganha mais ou menos com o mercado, pois você acredita em um ideal comum que vai te levar a postos muito mais altos no futuro. Este é um contrato social com o seu empregador. 


Contratos sociais são fortes ferramentas de alinhamento de interesse e motivação! Porém, quando quebrados dificilmente são reconstruídos.



Contrato de mercado


O contrato de mercado é o mais óbvio. É aquele em que há uma clara troca de valores financeiros por serviços. Eu te pago um determinado dinheiro e quero um determinado produto ou serviço. Te paguei e não preciso te agradar, contar minha vida, saber do seu passado. O serviço é claro e direto: dinheiro contra serviço.


Funcionários desmotivados tendem a ficar bastante focados na parte “mercadológica” do seu contrato, ou seja, avaliando se o que ganham é coerente (pelo menos de acordo com o seu critério) com o serviço que prestam – e, na maioria das vezes, não será pois o seu tempo em si já vale muito mais do que qualquer dinheiro. 


Qualquer quebra de contrato social, de acordo com o autor, dificilmente é reconquistada. Imagine uma situação em que a empresa em que você trabalha te promete um plano de carreira e falha ao entregar este plano. Por exemplo, ao invés de promovê-lo para uma posição em aberto, a empresa poderá optar por trazer alguém de fora, demontrando claramente que ela não confia que você poderá assumir a nova função. Isso em si já se configura em uma “quebra” do contrato social e, consequentemente, levará você a ponderar sobre o seu trabalho e sua remuneração (contrato de mercado). É por isso, também, que muitas empresas buscam remunerar seus profissionais chave com participação no negócio, alinhando os interesses “sociais”. 


Greve dos policiais / bombeiros 


Analisando esta recente greve percebo uma clara correlação com esta teoria. Veja, por exemplo, a diferença entre um bombeiro da cidade de Nova York com um bombeiro brasileiro (no estado da Bahia, por exemplo). Enquanto em Nova York em meio a um prédio colapsando, bombeiros subiam para tentar resgatar feridos, no Brasil a mesma classe faz greve deixando a sociedade em estado de caos por direitos e salários melhores.

É claro que um bombeiro de Nova York acredita que deveria ganhar mais, porém, ele é visto pela sociedade como um herói. Este é o contrato social dele: ser um bombeiro em Nova York. Ser o porto-seguro em uma situação emergencial. Imagem construída não somente por eles, mas também pelo cinema e imaginário comum. 

No Brasil, isso aconteceu recentemente com o Bope. O filme Tropa de Elite foi uma alavanca para melhorar a imagem da polícia no Rio de Janeiro. Anteriormente vista como uma polícia corrupta e aliada do tráfico, o filme romantizou um grupo de operações especiais e tenho certeza que, hoje, um policial do Bope não pensa apenas se deve se corromper por que ganha pouco. Hoje, a ponderação é: será que vale a pena eu me corromper e DECEPCIONAR todas as pessoas que acreditam na instituição que eu represento – BOPE? (contrato social) 

Resumindo... 

Neste sentido, a greve dos bombeiros e policiais mostra, entre outras coisas, que não há qualquer contrato social desta classe com a sociedade brasileira. Inclusive, me arrisco a dizer que a maioria dos servidores públicos são vistos pela sociedade como corruptos, preguiçosos, improdutivos levando-os a romper os “contratos sociais” com a sociedade e, de fato, ficando mais sucetíveis a corrupção e menor produtividade. É uma profecia auto-realizável. 

A minha conclusão disso tudo é que para melhorar a qualidade do serviço público (incluindo políticos) deveríamos fazer o inverso do que fazemos. Elevar a classe ao mais alto nível do heroísmo e formarmos com eles um contrato social que é muito mais forte do que qualquer contrato de mercado. Ao invés de falarmos: “político ganha bem e POR ISSO tem que ser honesto”, deveríamos dizer “político é o cargo mais importante de uma sociedade e ganha muito pouco pela responsabilidade que tem”. 

É de se pensar o resultado que isso pode trazer....

Se você quiser ler o livro, recomendo muito:

Predictably Irrational - The Hidden Forces That Shape Our Decisions
Autor: Dan Ariely
Editora: Harpercollins USA

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