segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Crise Portuguesa: história digna de um fado


Durante todo o ano de 2011 muito se falou sobre a crise da União Européia e os efeitos que o mundo inteiro poderá sentir caso a moeda comum daqueles países, o Euro, fracasse. Neste final de ano, tive a oportunidade de visitar um dos países europeus que é tido como um dos “problemas” do bloco: Portugal.  Além de Espanha, Itália, Grécia e outras economias menores, Portugal tem um dos maiores déficits da zona do Euro e, sem dúvida, a solução deste país será um dos maiores desafios das autoridades monetárias européias. Neste post, quero relatar rapidamente a minha visão sobre como o país e sua população estão lidando com a crise, quais os efeitos já sentidos e o que virá pela frente.


Contextualizando a situação: o que virá pela frente?

Antes de descrever as minhas impressões, quero contextualizar este texto e o momento que Portugal vive. Assim como na Grécia, Espanha e Itália, as autoridades políticas locais não tem outra opção além de fazer ajustes drásticos nos custos públicos e promover formas de aumento da arrecadação pública. Não tem segredo: ganhar mais e parar de gastar! E é esse o ambiente que Portugal vive. Alguns exemplos de medidas que estão afetando diretamente a população:

- Aumento da tarifa de eletricidade: + 4%;

- Aumento do IVA (Imposto s/ Valor Agregado): dependem da categoria do produto ou serviço mas, na média de 13% para 23%;

- Tarifa de celular: + 3,1%;

- Pedágio: + 4,34%;

- Saúde: Aumento nas tarifas de consultas e serviços de urgência – na média +66%;

- Redução progressiva no subsídio de férias e de natal (em muitos casos não haverá nenhum subsídio);

- Privatizações de várias companhias estatais: EDP (já realizada), REN (energia), CP Carga (Logística), ANA (serviços aeroportuários), TAP (companhia aérea) e CTT (correios).

Como se pode ver pelas medidas, o governo parece não poupar esforços para solucionar o déficit do país (que hoje gira em torno de 8% do PIB). Porém, o aumento da maioria dos serviços públicos em um país onde o desemprego continua alto e crescente e a renda da população diminui, machuca muito a população em geral.

Humor geral: Melancolia

Um dos sentimentos mais percebidos durante a viagem foi a “resignação” portuguesa. Diferentemente do que vemos pelos jornais em outros países em situação parecida (leia-se Grécia, Espanha e Itália), a população portuguesa não está indo às ruas protestar contra os seus governantes. Pelo contrário, o sentimento geral é: reclamar não funciona, temos que assumir a crise e trabalhar para sair dela. Isso é bom por um lado, mas gera um sentimento de “depressão geral” da população.

Uma certa melancolia é notada inclusive nos canais de televisão. Durante as tradicionais transmissões de ano novo, eram comuns termos como: “agora veremos como foi a passagem do ano na Austrália, onde não há crise”. Aliás, em Lisboa, o governo suspendeu o show pirotécnico alegando corte de despesas. Particularmente, acho uma medida correta já que seria, no mínimo, incoerente gastar com shows pirotécnicos enquanto corta-se despesas de saúde e educação, por exemplo.

Imóveis: sempre um caso a parte

Não é novidade que o mercado imobiliário tenha sido a grande “vedete” desta crise financeira. Por lá, parece que não foi diferente. A quantidade de imóveis anunciados para venda e aluguel impressiona. Andando pelos principais centros das cidades, a sensação é que 20-30% dos imóveis estão com algum tipo de anúncio de comercialização.

Os hotéis, então, nem se fala. Nos principais pontos turísticos de Portual, onde a população local costuma passar o reveillon, o nível de ocupação relatado pelos administradores das redes hoteleiras foi de 70% (contra 100% em vários anos anteriores). Algumas redes chegaram a relatar 50% de ocupação para o período entre natal e ano novo. Isso mostra o quanto o povo português deixou de consumir neste fim de ano e o quanto isso vem impactando na economia local.

Consumo

Corroborando com o baixo índice de ocupação dos hotéis, o consumo parecia bastante baixo. Nas lojas cheias só se viam turistas (leia-se: 60% de brasileiros, 20% de italianos e 20% de outros...). Sem excessão, todas as lojas apresentavam descontos agressivos de 60-70% sobre o preço de etiqueta. A princípio, acreditei que se tratava dos descontos pós-natal, porém, a população local confirmava que os descontos este ano começaram antes mesmo do natal.

Resumindo...


É triste quanto se sente as consequências de uma crise financeira “na pele” da população. Se tivesse que resumir a situação em uma palvra, eu utilizaria: depressão. Porém, assim com outros, Portugal é vítima de uma gestão pública completamente equivocada. Um país pequeno, pobre, com uma população que gera pouca riqueza, usou de sua posição na União Européia para atrair capital barato e financiar um desenvolvimento sem igual. Hoje, anda-se por Portual como se estivesse em um dos países mais ricos do continente: largas estradas, trens cobrindo todo o país, serviços públicos bem estruturados, etc. Tudo isso tem um custo e uma hora a conta chega. Ela sempre chega!

2 comentários:

  1. Marcelo, muito clara a sua explanação. Incrivel como no fundo é sempre os governos complicando tudo, claro que na hora da fartura a população gosta.Veja o Brasil com a farra peteba socialista. Uma hora vai vir a conta. abço

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    1. Noi, sabe que quando eu escrevia este post eu não consegui evitar em fazer o paralelo que você fez no seu comentário? Concordo plenamente. Até por que os brasileiros estão aproveitando a "bonança" para consumir... quando o certo deveria ser poupar. Temo que você tenha razão: a conta vai chegar. Isso até me inspirou a escrever um outro post. :)
      Obrigado pela participação e um abraço!

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