Durante todo o ano de 2011 muito
se falou sobre a crise da União Européia e os efeitos que o mundo inteiro poderá
sentir caso a moeda comum daqueles países, o Euro, fracasse. Neste final de
ano, tive a oportunidade de visitar um dos países europeus que é tido como um
dos “problemas” do bloco: Portugal. Além de Espanha, Itália, Grécia e outras
economias menores, Portugal tem um dos maiores déficits da zona do Euro e, sem
dúvida, a solução deste país será um dos maiores desafios das autoridades
monetárias européias. Neste post, quero relatar rapidamente a minha visão sobre como o país
e sua população estão lidando com a crise, quais os efeitos já sentidos e o que
virá pela frente.
Contextualizando a situação: o que virá pela frente?
Antes de descrever as minhas
impressões, quero contextualizar este texto e o momento que Portugal vive.
Assim como na Grécia, Espanha e Itália, as autoridades políticas locais não tem
outra opção além de fazer ajustes drásticos nos custos públicos e promover
formas de aumento da arrecadação pública. Não tem segredo: ganhar mais e parar
de gastar! E é esse o ambiente que Portugal vive. Alguns exemplos de medidas
que estão afetando diretamente a população:
- Aumento da tarifa de
eletricidade: + 4%;
- Aumento do IVA (Imposto s/
Valor Agregado): dependem da categoria do produto ou serviço mas, na média de
13% para 23%;
- Tarifa de celular: + 3,1%;
- Pedágio: + 4,34%;
- Saúde: Aumento nas tarifas de
consultas e serviços de urgência – na média +66%;
- Redução progressiva no subsídio
de férias e de natal (em muitos casos não haverá nenhum subsídio);
- Privatizações de várias
companhias estatais: EDP (já realizada), REN (energia), CP Carga (Logística),
ANA (serviços aeroportuários), TAP (companhia aérea) e CTT (correios).
Como se pode ver pelas medidas, o
governo parece não poupar esforços para solucionar o déficit do país (que hoje
gira em torno de 8% do PIB). Porém, o aumento da maioria dos serviços públicos
em um país onde o desemprego continua alto e crescente e a renda da população
diminui, machuca muito a população em geral.
Humor geral: Melancolia
Um dos sentimentos mais
percebidos durante a viagem foi a “resignação” portuguesa. Diferentemente do
que vemos pelos jornais em outros países em situação parecida (leia-se Grécia,
Espanha e Itália), a população portuguesa não está indo às ruas protestar contra
os seus governantes. Pelo contrário, o sentimento geral é: reclamar não
funciona, temos que assumir a crise e trabalhar para sair dela. Isso é bom por
um lado, mas gera um sentimento de “depressão geral” da população.
Uma certa melancolia é notada
inclusive nos canais de televisão. Durante as tradicionais transmissões de ano
novo, eram comuns termos como: “agora veremos como foi a passagem do ano na
Austrália, onde não há crise”. Aliás, em Lisboa, o governo suspendeu o show
pirotécnico alegando corte de despesas. Particularmente, acho uma medida
correta já que seria, no mínimo, incoerente gastar com shows pirotécnicos
enquanto corta-se despesas de saúde e educação, por exemplo.
Imóveis: sempre um caso a parte
Não é novidade que o mercado
imobiliário tenha sido a grande “vedete” desta crise financeira. Por lá, parece
que não foi diferente. A quantidade de imóveis anunciados para venda e aluguel
impressiona. Andando pelos principais centros das cidades, a sensação é que
20-30% dos imóveis estão com algum tipo de anúncio de comercialização.
Os hotéis, então, nem se fala.
Nos principais pontos turísticos de Portual, onde a população local costuma
passar o reveillon, o nível de ocupação relatado pelos administradores das
redes hoteleiras foi de 70% (contra 100% em vários anos anteriores). Algumas
redes chegaram a relatar 50% de ocupação para o período entre natal e ano novo.
Isso mostra o quanto o povo português deixou de consumir neste fim de ano e o
quanto isso vem impactando na economia local.
Consumo
Corroborando com o baixo índice
de ocupação dos hotéis, o consumo parecia bastante baixo. Nas lojas cheias só
se viam turistas (leia-se: 60% de brasileiros, 20% de italianos e 20% de
outros...). Sem excessão, todas as lojas apresentavam descontos agressivos de
60-70% sobre o preço de etiqueta. A princípio, acreditei que se tratava dos
descontos pós-natal, porém, a população local confirmava que os descontos este
ano começaram antes mesmo do natal.
Resumindo...
Marcelo, muito clara a sua explanação. Incrivel como no fundo é sempre os governos complicando tudo, claro que na hora da fartura a população gosta.Veja o Brasil com a farra peteba socialista. Uma hora vai vir a conta. abço
ResponderExcluirNoi, sabe que quando eu escrevia este post eu não consegui evitar em fazer o paralelo que você fez no seu comentário? Concordo plenamente. Até por que os brasileiros estão aproveitando a "bonança" para consumir... quando o certo deveria ser poupar. Temo que você tenha razão: a conta vai chegar. Isso até me inspirou a escrever um outro post. :)
ExcluirObrigado pela participação e um abraço!