terça-feira, 21 de agosto de 2012

A China e o poder brando: navegações de Zheng He


Há algum tempo venho desenvolvendo um interesse maior pela cultura chinesa. Comecei a ler mais sobre o assunto, entrei em um curso de mandarim e até marcar viagem para a China estou marcando. A ideia é ver em primeira pessoa o tão famoso mercado chinês. Mais que isso, aprender sobre uma cultura completamente diferente da nossa e tentar tirar algumas lições como esta que tentarei explicitar neste post.


Na última semana tive a oportunidade de conhecer um "amigo de amigo meu" que além de uma explícita paixão pela China, conhece muito sobre a sua história e sua cultura. Conversar com ele despertou ainda mais esse meu anseio pela China. Fui atrás de palestras na internet, textos e comecei a ler um livro que há tempos estava guardado na estante chamado "Sobre a China" de Henry Kissinger.

O curioso desta história toda é que muitas fontes relatavam algo em comum em relação a uma possível dominação chinesa sobre o mundo: os chineses simplesmente não querem conquistar ninguém, nunca quiseram e se quisessem já teriam dominado há muito tempo. Isso me pareceu bastante curioso pois é algo completamente antagônico ao que aprendemos sobre a nossa civilização ocidental. Por aqui, países foram conquistados, descobertos, disputados, enfim, houve sempre um interesse pela dominação territorial e cultural sobre um outro povo. Na China, simplesmente, não há foco histórico na sua "descoberta" ou no seu "surgimento". A China simplesmente é a China. E desde sempre foi.... a China -  o "Império do Meio". 

As navegações de Zheng He

Para ilustrar este conceito, achei muito interessante uma história relatada no livro de Kissinger sobre as navegações de um almirante chinês chamado Zheng He - "uma das aventuras navais mais notáveis e misteriosas da história" segundo o autor.

Para contextualizar, a época das viagens de Zheng He é anterior a era europeia da exploração, de fato, a armada espanhola surgiria após 150 anos do início das aventuras do almirante chinês. Zheng He era um "eunuco chinês de família muçulmana recrutado para o serviço imperial quando criança", ou seja, completamente diferente do que se pode imaginar de um "conquistador" antigo.

Duas coisas me chamaram bastante a atenção e que eu gostaria de destacar neste post:

1) O avanço tecnológico chinês:

Por aqui temos o hábito de reconhecer a qualidade das embarcações europeias até por que foram elas que nos "descobriram". Quantas empresas financeiras não existem chamada: Caravela, Sagres (famosa escola portuguesa), etc... De fato, eu trabalhei em um hedge fund chamado CarVal (uma alusão em inglês a Caravela). Entretanto, a embarcação chinesa de, repito, 150 ANOS mais antiga do que as embarcações europeias são muito mais impressionantes. Vejam na foto abaixo uma comparação em escala das embarcações de Zheng He e de Colombo!

Embarcação de Zheng He comparada com a de Colombo

Outro item que chamou muito a atenção e, talvez, o principal deles:

2) Os objetivos da navegação de Zheng He

A primeira pergunta que eu me fiz foi: com uma embarcação tão grande e poderosa (eram vários barcos como esse navegando), como a China não conquistou ANTES as terras que eles passaram. Para se ter uma idéia, o almirante navegou por destinos longínquos como Java, Índia, o Chifre da África, etc... Dizem até que ele chegou na América (claro que até então não era conhecida como América), incluindo o Brasil. Adivinhem qual o motivo deles não terem conquistado ou reclamado por nenhuma colônia? Simples, pois eles não queriam!

O objetivo das navegações de Zheng He até hoje são discutidos por historiadores. Sabe-se apenas que o almirante, ao aportar em uma nova terra, presenteava os soberanos dessas áreas com itens da cultura chinesa, os convidavam para visitar a China e, no máximo, solicitavam para que fizessem o ritual de kowtow (onde a pessoa ajoelha-se e toca a testa no chão em reverência ao imperador). 

Resumindo: eram viagens de apresentação da cultura chinesa. De busca por parceiros comerciais. De integração entre povos. No máximo, podemos dizer que eles queriam abrir rotas comerciais para seus produtos, porém, não tinham o objetivo de dominação pela conquista. Tal como Kissinger desreve "exército precoce do poder brando (soft power)".


É interessante saber que há outras culturas vivendo em um mesmo mundo que o nosso, porém, com visão de realidade completamente distinta. Relatos antigos e o conhecimento da cultura chinesa, também nos ajudarão a entender que a China provavelmente nunca convergirá em um modelo ocidental (norte-americano) de poder que é feito através de guerras, conquistas e batalhas econômicas. Igualmente, chineses provavelmente não tomarão café, não serão réplicas culturais de outras potências mundias. Provavelmente, serão apenas...a China! E tomara que assim sejam!

Se você conhece sobre Zheng He, sobre a China, sobre qualquer coisa, dê a sua opinião! Estou aprendendo... sempre!







Ficou interessado em ler mais sobre o assunto? Recomendo o livro comentado neste artigo e também seguir no twitter o "amigo do amigo" Felipe UFO - @felipeUFO :



Autor: Kissinger, Henry
Editora: Objetiva
Categoria: Geografia e Historia / Historia Mundial









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