terça-feira, 18 de outubro de 2011

De onde vem o lucro dos bancos?

Muito se fala dos altos ganhos de bancos brasileiros, quase sempre atribuídos às altas taxas de juros. A taxa de juro elevada, de fato, é um fator de contribuição importante para os altos ganhos das instituições locais, porém, as solicitações feitas pelo Comando Nacional dos Bancários, na recente greve que obteve a adesão de mais de 9.000 agências por todo o país (a maior greve bancária da história), nos dão uma idéia de outra grande fonte de lucro dos bancos.
 Ignorando as reivindicações econômicas (aumento de salário e participação nos resultados) temos itens que mostram com clareza como a renda dos bancos é distribuída entre seus colaboradores. Vejamos as reivindicações:
i.                    Mais contratações: Funcionários, no geral, se sentindo sobrecarregados de trabalho;
ii.                  Fim da rotatividade: Rotatividade ocorre em todos os setores mas apenas no bancário isso serve para diminuir os salários. De acordo com pesquisa divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) mostra que a diferença de salário dos bancários admitidos para o último salário dos demitidos foi de -38%;
iii.                Combate ao assédio moral: 67% dos bancários afirmaram que seus chefes agridem ou ameaçam subordinados em público desrespeitando e constrangendo o trabalhador e 43% dizem se sentir pressionados pelo superior o tempo todo (Sindbancarios);
iv.                 Fim das metas consideradas abusivas: Usualmente bancos colocam metas agressivas para seus funcionários muitas vezes prejudicando a qualidade do serviço – quem nunca recebeu uma ligação do gerente do banco indicando a contratação de um seguro ou de uma aplicação?;
v.                   Mais segurança nas agências: O crescente número de assaltos e o despreparo dos seguranças bancários são notórios até para quem não é especialista no setor;
vi.                 Igualdade de oportunidades;
vii.               Melhoria do atendimento aos clientes.
O que eu gostaria de destacar neste texto é que as reivindicações não-econômicas demonstram a insatisfação dos bancários em relação a itens muito importantes em qualquer empresa de qualquer setor. O elevado nível de adesão ao movimento grevista (45% do total de agências no país) nos mostra que esta não é uma opinião isolada de uma ou outra instituição mas de grande parte do setor.
Funcionários sobrecarregados trabalhando por dois, metas excessivamente agressivas aumentando o resultado financeiro, serviços terceirizados de baixa qualidade (segurança, por exemplo), pressão por resultados e diminuição de salários são atitudes que aumentam o resultado dos bancos ano após ano. 
Apesar dos ganhos elevados, os bancos brasileiros não revertem isso em qualidade de trabalho para seus funcionários e, consequentemente, resultam em uma serviço de baixa qualidade para seus clientes. Produtos de investimento caros e com rentabilidade baixa, créditos com risco baixo e juros elevados, baixa competitividade, horário de atendimento reduzido, falta de segurança, entre outros. Não é de se espantar que os bancos brasileiros tenham tanto foco em internet banking – talvez eles já saibam que quanto menos o cliente for até eles, menor será a frustração em relação aos serviços prestados.


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