É impressionante como os debates ficam acalorados em época
de eleição, principalmente, presidencial. Este fato isolado poderia ser
interepretado como positivo pois poderia significar uma “politização” maior da
sociedade. Poderia significar que finalmente, estamos mais interessados em
discutir um futuro melhor. Porém, na minha visão, o que se vê é um debate
emocional onde não se discute absolutamente nada de produtivo. A forma e o
conteúdo tendem a ser muito mais parecido com um debate da rodada de futebol do
final de semana passado do que de propostas objetivas para o país.
Mas ao meu ver, isso não é um problema do povo e sim da
estrutura política brasileira. Não adianta ficar discutindo e brigando com
argumentos como: o PSDB é elitista, privatizador e vai acabar com programas
sociais. Ou que o PT é comunista e que vai transformar o Brasil em Cuba. Ou
ainda que o PV quer acabar com o agronegócio. Esse tipo de argumento é tão
pobre quanto o resultado que temos da política brasileira. E o pior: estes
adjetivos e “argumentos” tomam a maior parte do próprio debate entre os
candidatos.
A política está caindo em descrédito. Esta banalizada. Prova disso é que nestas eleições presidenciais tivemos 39 milhões de abstenções, votos nulos e votos em branco. Isso é quase que 30% da população. Que política é essa?
A política está caindo em descrédito. Esta banalizada. Prova disso é que nestas eleições presidenciais tivemos 39 milhões de abstenções, votos nulos e votos em branco. Isso é quase que 30% da população. Que política é essa?
Não está bom para
ninguém
Para o povo: não temos acesso a recursos básicos, a gestão
econômica é temerosa, casos de corrupção explodem todas as semanas, pagamos
altas taxas de impostos.
Para os políticos: precisam desembolsar fortunas para se candidatar, precisam fazer alianças acima de suas ideologias, não conseguem executar nada rapidamente pois sucumbem a burocracias extremas.
Mas então como transformar o país? Como sair deste estágio que, claramente, é ruim para todos.
A resposta na minha opinião é começarmos a discutir REFORMA
POLÍTICA e não candidatos. Sem ela, não haverá nenhum candidato com condições
de ganhar que poderá de fato melhorar a sua vida. Vou listar alguns pontos que
julgo imprescindíveis para isso ocorrer.
1) Estrutura partidária
No Brasil temos 32 partidos políticos. Fale rápido o que
significa a sigla destes partidos: PHS, PTN, PSL, PPL, PMN... Sabe de algum? E
ainda tem outros 27 para você não saber! (veja todos aqui)
O pior. Me diga qual dos 32 partidos é a favor da diminuição
maioridade penal? Qual deles é a favor da reforma política? Qual deles é
oposição? Qual deles é posição?
Esta estrutura partidária esdruxula reflete as pessoas que
nela estão. Cria-se um partido em busca de poder (político e econoômico). Veja
o exemplo do PCO (Partido da Causa Operária). Nunca elegeu nem um representante
para a Câmara, mas no ano passado recebeu R$ 629.081 do Fundo Partidário. Quer
mais? PTN – sem representantes na Câmara, recebeu R$ 1.250.014. (fonte: O Globo)
Isso ocorre por que a verba do Fundo Partidário distribuí 5%
do seu saldo total entre todos os partidos. Independente se já elegeram alguém
ou não. O restante (95%) é distribuído de acordo com a representação na Câmara.
É preciso ACABAR com esta estrutura. É preciso que os
partidos representem causas. E não pode existir 32 causas. Para mim, são no
máximo 3 (esquerda, centro e direita). Quem estiver alinhado com essas que se
filie ao partido e busque representação interna.
2) Financiamento privado de campanha
Outra distorção do modelo é o financiamento privado de
campanha.
Para eleger um deputado estadual na Bahia, estima-se ser necessário entre R$ 3 e R$ 5 milhões. Isso mesmo, CINCO MILHÕES DE REAIS. Agora, me diga, como um deputado vai conseguir este dinheiro? Com doações! E elas atingiram vultuosos valores de R$ 1 Bilhão na campanha presidencial de 2014 (e ainda nem acabou).
Para eleger um deputado estadual na Bahia, estima-se ser necessário entre R$ 3 e R$ 5 milhões. Isso mesmo, CINCO MILHÕES DE REAIS. Agora, me diga, como um deputado vai conseguir este dinheiro? Com doações! E elas atingiram vultuosos valores de R$ 1 Bilhão na campanha presidencial de 2014 (e ainda nem acabou).
Foi publicado na Folha de São Paulo que apenas a empresa JBS
Friboi doou mais de R$ 100 milhões para a campanha presidencial. Gente, empresa
não DOA. Empresa INVESTE.
O pior disso tudo é que fatalmente quem está no poder vai
receber mais. Pois o investimento é mais “garantido”. Campanhas caras geram
ônus morais de seus recebedores com seus doadores.
E isso independente do partido. Se você votou em Dilma, Aécio e Marina, provavelmente, o dinheiro da campanha deles saiu do mesmo bolso: JBS, Ambev, bancos, construtoras, e assim por diante.
Não espere resultados diferentes fazendo a mesma coisa. O
poder econômico reina. Se você quer um candidato independente do poder
econômico, tire dele esta dependência. Hoje, aqueles que não recebem esta verba
toda são taxados de NANICOS e são alvo de piadas em debates. É a inversão total
de valores!
Sem contar os casos de corrupção que ocorrem em empresas
estatais como Petrobras, Correios, Banco do Brasil entre outras para
financiamento de campanha. Lembrem-se que no Mensalão, a maior parte dos
recursos não foi para enriquecimento das pessoas físicas, mas sim para repasse
para o partido. É preciso acabar com
isso!
Por isso, eu defendo o financiamento 100% público de
campanha com uma fiscalização total. Os 3 partidos (após a reforma partidária)
terão o mesmo tempo de TV, os mesmos recursos financeiros e assim o que prevalecerá
serão as ideias e não os recursos.
3) Voto obrigatório
No Brasil, temos uma sociedade ainda com baixa capacidade
cognitiva. Temos distorções claras que provam isso: Maluf foi impedido pela
justiça de se candidatar. Você votaria nele mesmo sabendo que a JUSTIÇA o
impediu? Pois bem, ele teve mais de 200.000 votos mesmo impedido. Arruda no DF
também estava impedido e aparecia em primeiro em todas as campanhas a
governador.
Não estou dizendo que estas pessoas são culpadas ou que
cometeram crime. O que estou dizendo é que o mínimo que o povo poderia fazer
era aguardar o final do recurso e o trânsito em julgado. Na dúvida, não vote em
alguém que PODE SER que seja culpado, correto? Mas não, o povo vota e elege!
E não é apenas isso... Quantos porcento da população você
acha que entende de termos como “aparelhamento da máquina pública”, “fator
previdenciário”, “taxa de juros selic”, “privatização vs concessão”, etc.
Quantos? 1%? Você entende 100% desses assuntos? O que a maioria entende é que o
fulano passou fome... Que o fulano me deu um telhado...
E o pior... Quantos porcento da população sabem o que um
senador faz? O que um presidente faz? Tivemos uma situação nesta eleição onde a
campanha política do PT (posição) bradou em alto e bom som que o Banco Central
independente tira a comida do prato do pobre... MEU JESUS AMADO! Isso é uma das
maiores asneiras da história política! E você acha que o povo tem discernimento
para filtrar esta mensagem?
É preciso acabar com o voto obrigatório. Não se pode exigir voto de pessoas que não tem condição de votar. Elas não escolherão o melhor. Escolherão o mais conveniente. Isso só interessa para quem está no poder que tem um “mind share” maior que todos os outros visto que apareceu nos últimos 4 anos constantemente.
4) Meritocracia: Tratar com igualdade os desiguais
A mídia brasileira é obrigada a tratar com igualdade os
candidatos. É preciso dar tempo igual de matérias jornalísticas, é preciso
chamar todos para o debate e assim por diante.
Com todo o respeito, não tem nenhum mérito em um candidato a
presidência da república. A maioria só está ali para manter o partido vivo.
Perde-se 60-70% do tempo com propostas completamente infundadas e acusaões dos
chamados NANICOS. E com isso não se discute o principal: propostas reais.
Os comentários do debate nas redes sociais são como
comentários de uma luta de MMA. E com esta estrutura não poderia ser diferente.
Isso é ridículo.
É preciso tratar com igualdade os IGUAIS. É preciso separar
antes quem tem o mínimo de mérito para estar lá. E não estou falando do sujeito
ser analfabeto, pobre e sindicalista. Ele pode ser tudo isso. Mas ele tem
experiência pública? Ele sabe as funções básicas do seu cargo? Ele passou em um
exame psicotécnico?
Defendo a meritocracia. Quanto maior o cargo, mais meritocrata ele deve ser. Podemos até ter uma carreira lógica para políticos:
Legislativo – Vereador > Deputado Estadual > Deputado
Federal > Senador
Executivo – Síndico do prédio > Prefeito > Governador
> Presidente
De qualquer forma, precisamos filtrar qualitativamente.
5) Unificação das eleições municipais e nacionais
A cada 2 anos o país político para no Brasil. Sejam para
eleições municipais ou para nacionais. E todos sabem que no ano eleitoral, os
políticos só trabalham para uma coisa: se (re)elegerem. Isso significa que 50%
do tempo de trabalho de um político é desperdiçado em campanha.
É preciso acabar com eleições a cada 2 anos. Que paremos o país apenas a cada 4 anos. Ainda, poderíamos propor uma eleição a cada 5 anos com o fim da reeleição. Assim teríamos continuidade, alternância de poder e maior eficiência do recurso.
6) Avaliação objetiva
Os candidatos precisam objetivamente colocar quais são suas
propostas de campanhas. De forma objetiva e mensurável, como todos os gestores
de empresa precisam fazer. São metas específicas, mensuráveis, atingíveis e
relevantes.
Não cabe a população fiscalizar. Ninguém tem tempo para
acompanhar o trabalho de 1.000 parlamentares. Ninguém nem lembra em quem votou.
E não tem a obrigação de lembrar mesmo. Isso não é cidadania, é idiotice. Cabe
então, delegarmos um órgão independente para julgar qualitativamente o mandato
e “passar o relatório” para a população com sanções claras.
Após o seu mandato estas metas serão avaliadas por um comitê independente que precisa comprovar as avaliações feitas. Quem não cumprir um mínimo de 70% de atingimento não perde seu cargo e não poderá mais se candidatar.
Portanto, se quer de fato ajudar o país a melhorar pare de
ficar discutindo política nas redes sociais como se fosse um jogo de futebol ou
algo pessoal. Vamos discutir a reforma política e forçar a sua execução. Se
dependermos dos políticos para fazermos a reforma ela não sairá nunca já que
afetará a sua própria atuação.
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