segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Conflito de interesses do analista de mercado

Em recente artigo no jornal Valor Econômico, Oliver Staley relata a mudança nas universidades norte americanas em exigir dos seus integrantes uma expressa declaração de todas as suas atividades extra-acadêmicas para que sejam evitadas situações graves de conflito de interesses que foram, inclusive, relatadas no documentário “Inside Job” – vencedor do Oscar de melhor documentário.
No filme,  foi relatada a história do professor de finanças Frederic Mishkin, da Universidade de Columbia, que em 2006 escreveu um artigo acadêmico positivo sobre a Inslândia, após receber US$ 124 mil da Câmara de Comércio daquele país. Dois anos depois do artigo, o país não honrou a sua dívida, teve uma desvalorização da moeda e sua população sofreu uma crise econômica grave. A pergunta que fica é: apenas professores deveriam declarar seu vínculo em artigos acadêmicos?
No Brasil, é bastante comum a análise econômica por empregados de grandes bancos (sejam de varejo ou de investimento). Isso sem falar em análises de mercado (incluindo recomendações de compra e de venda) por operadores de corretoras de ações e valores mobiliários que tem uma imagem corporativa muito menor a zelar. Estes analistas de uma forma ou de outra estão influenciados em suas observações dado que sua remuneração pessoal pode estar atrelada a um movimento ou outro da economia ou de um ativo específico (e normalmente estão).
A maior das aberrações das análises para mim são as corretoras sugerindo carteiras de investimentos. Se você ganhasse dinheiro na venda e na compra das ações, qual seria o seu interesse: (i) sugerir uma carteira de longo prazo com poucas modificações; ou (ii) trocar as ações sempre que puder? Óbviamente que será a segunda opção. É claro que você não quer que ele perca dinheiro, porém, quanto mais ações o seu cliente comprar ou vender, maior seria o seu ganho! Quero deixar claro que existem inúmeras corretoras éticas e responsáveis, porém, nenhuma delas será completamente imparcial neste quesito.
Já passou a hora de regulamentarmos as análises de mercado. É indispensável que qualquer pessoa que escreve artigos de recomendação de compra e de venda sobre qualquer ativo específico, coloque para os seus leitores qual a sua posição nesses ativos (vendido, comprado ou neutra) e qual o seu interesse no mercado (onde ele ganha dinheiro).
E você? Acha que está sendo crítico o suficiente quando lê as análises de mercado?
Em tempo: não estou vendido em nenhuma empresa de análise de mercado e muito menos em corretoras.

Um comentário:

  1. Olá Marcelo, muito bom seu post. Grato por comentar lá no blog Finanças Forever.
    Em complemento desse seu texto, deixo aqui meu recado: Há alguns meses, li uma notícia no site da revista Você S/A.
    A notícia dizia o seguinte: Pra vc investir em um fundo de renda fixa de um tal banco.
    Oras bolas, o fundo investe em Renda Fixa e você pode fazer isso sozinho, não precisa de bancos para isto. Mas ao invés de eles falarem do Tesouro Direto, eles preferem promover o banco. Será que o banco é anunciante da revista?
    Abraços e sucesso!
    @everton_ric

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